Ela tem trinta e seis anos. Procurou-me querendo um remédio que a fizesse tolerar o marido. Isso mesmo: tolerar! Disse-me que havia voltado com ele depois de dois anos de separação. Resolvera voltar para que ele a ajudasse a criar os filhos.
-Não consigo suportar que ele me beije me abrace; e o simples contato com a mão dele me dá repugnância, dizia. È logico que a primeira coisa que me veio na cabeça, é que ela gostava de outro. Fiz então a clássica pergunta? -Mas se você não gosta, por que voltou? Será que está apaixonada por outro?
-Não! Ela me respondeu com
veemência. Nós somos amigos, e eu me sinto amparada por ele.
Pensei então na hipótese mais comum para traumas femininos deste porte: a violência familiar. Quando perguntei se ela havia sofrido algum tipo de violência quando criança, ela abaixou os olhos tremeu os lábios, piscou- miúdo pra não chorar e respondeu:- Eu nunca sofri violência, mas quando era pequena via quase toda noite o meu irmão mais velho “fazer coisa feia” com a minha irmã. E nunca pude falar nada porque ele me ameaçava.
Tentei acalmá-la, dei-lhe um ansiolítico e pedi para voltar mais vezes para
conversarmos um pouco. Isso era o máximo que eu podia fazer para uma criaturinha que mora na roça e não tem nenhuma possibilidade de fazer uma terapia sexual.
Numa hora destas a gente se sente tão impotente por não poder atender como devia uma pessoa dessas, que dá vontade de chorar.
O que eu gostaria mesmo, é que os burocratas Brasilia, a nossa “ilha da fantasia”, saíssem da sua imponência e viessem até nós. Talvez eles se tocassem para roubar menos falar menos e fazer mais pelo sofrido povo brasileiro
Beijos