- Vim aqui porque quero dar anticoncepcional pra minha filha
Foi um susto só!
Olhando para minha pequena paciente vi uma menininha que não deveria ter um metro e meio... Até aí tudo bem. Mas ela não tinha busto, nem ameaçava começar o seu desenvolvimento sexual. Perguntei apenas para ver se a mãe “acordava”
- Ela já menstruou a primeira vez?
- Não, - foi a resposta, mas já está com um namoradinho- Respondeu a mãe.
A garota não falava nada e dava a
impressão de nem participar da conversa.
No decorrer da consulta fiquei sabendo que a mãe que tinha hoje 37 anos tivera a filha na adolescência com um “marido” bem mais velho. Depois disso, tivera mais três maridos e agora namorava um rapaz de 19 anos.Ela disse-me claramente que não queria este futuro para a filha, e que algumas coleguinhas da menina já eram mães aos 14 anosO que fazer num caso destes?
Conversar com a mãe? Explicar? Mas explicar o que?
Que preferia que a filha corresse o risco de ficar grávida?
Que ela deveria ter conversado mais com a filha?
Que era cedo demais pra namorar?
Que erradas eram as meninas que foram mães aos 14 anos?
Que errada era ela, que não dava exemplo nenhum?
Resolvi conversar com a mais interessada que era a minha pequena paciente.
Vi que a mãe a intimidava, ou melhor, não dava tempo para ela responder nada.
Perguntei se ela queria conversar a sós comigo, e tendo resposta positiva pedi para a mãe deixar-nos a sós.
Conversamos bastante tempo de uma forma amiga e amena.
Ela confessou-me que estava “ficando” com um coleguinha de classe, mas que não tinha havido nada mais que uns beijos.
Disse-me também que era muito amiga da sogra que sempre aconselhava os dois a não passarem dos limites.
Fui clara ao explicar que não era hora de tomar pílula, e que gravidez na adolescência não era uma coisa assim tão simples.
Expliquei que nossa conversa seria sempre sigilosa, e que eu estaria pronta para conversar sempre que ela quisesse. Que ela poderia vir sozinha, com a mãe com o namorado ou com uma amiga, sempre que sentisse necessidade de conversar.
Mas que eu deveria ser a primeira, a saber, quando “rolasse uma transa”.
Expliquei sobre anticoncepcional, sobre DST e sobre a pílula do dia seguinte, caso houvesse uma relação inesperada.
Pois bem; ficamos muito amigas e fui a sua orientadora e medica até que ela se casasse e mudasse para outra cidade. Fui sua amiga na ocasião da primeira menstruação, tratei das cólicas menstruais, ouvi sobre as desilusões amorosas, preparei-a para a primeira experiência sexual, e hoje, através das redes sociais acompanho a sua vida.
Mas não é sempre que tenho um “final feliz”
Já tive mães culpando-me pela gravidez da filha...
Já tive menina que veio contar que havia feito aborto...
Já chorei sem saber o que fazer...
Já me alegrei com historia lindas.
Já ouvi e vivi tanta coisa...
Afinal... São mais de quarenta anos!
Mas, valeu a pena, e continua valendo!



Comentários
NOME
E-MAIL
TEXTO